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Armadilhas da Mente: A obra-prima de Augusto Cury sobre os mistérios da mente humana (PDF online)



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Armadilhas Da Mente Pdf Download



3 CAPÍTULO 1 Uma Fazenda Bela e Misteriosa Camille detestava psiquiatras. Esta nobre área da medicina não conseguia sensibilizar uma mulher que enfrentava o mundo exterior, mas tinha medo de entrar em contacto com o seu mundo interior. A sua mente era um cofre, tão sofisticada quanto fechada. A sua inteligência era extraordinária, tão complexa quanto difícil de lidar. Ela acabara de sair do consultório de mais um profissional. Como sempre, viera -se embora confrontando -o, enfurecendo -se, com uma eloquente crise de ansiedade. Desta vez, no entanto, tinha sido diferente. Esta intelectual que deixava de boca aberta psiquiatras, psicólogos, intelectuais e políticos com a sua surpreendente capacidade de debater ideias saiu a meio da consulta completamente abalada. Recebera um diagnóstico que fez o mundo ruir aos seus pés. A mulher rica e culta que tinha fobia social, que não andava na rua sozinha, que se recusava a ser o centro das atenções e detestava plateias, tornou -se a atriz principal de um espetáculo público, uma peça que representava a sua cálida e asfixiada emoção. Não se importava com mais nada. Raramente chorava e nunca deixava transparecer a sua dor. Desta vez, porém, chorou descontroladamente. Conheceu a linguagem das lágrimas, a mais universal e penetrante de todas as locuções. Sentou -se num muro baixo que contornava um belo jardim onde cresciam margaridas, jasmins e violetas de muitas cores. O seu mundo, no entanto, estava destituído de cores e de flores. Os transeuntes interromperam a sua marcha para ver o espetáculo. Rodearam -na. Atónitos, vislumbravam uma bela mulher num pranto, desesperada, que sofria de tal maneira que tinha perdido Armadilhas da Mente 7


4 todos os travões sociais. Alguns emocionaram -se e identificaram- -se com ela. Mais cedo ou mais tarde, todos têm os seus dias de desespero, e eram muitos os espectadores ali presentes que já os tinham experimentado. Com as mãos a cobrir o rosto, Camille proclamava: Quem sou eu? Quem sou eu? É insuportável! Quem sou eu? A plateia emudeceu diante destas simples e tépidas palavras. As pessoas não sabiam o que dizer ou como intervir. Alguns ficaram com lágrimas nos olhos. Outros, que se iam juntando à multidão, perguntavam entre si: O que aconteceu? Outros ainda: Quem é que morreu? Momentos depois, animado por um ímpeto altruísta, um homem de meia -idade tentou ajudá -la. Pensando que ela tivesse rompido a sua ligação ao passado e perdido a memória, tocou -lhe suavemente no ombro direito e perguntou: Menina... Menina, precisa de alguma coisa? Tem os seus documentos consigo? Ela não respondeu. Parecia não estar ali. Os transeuntes não faziam ideia de quem se tratava. Alguns eram leitores dos seus livros, mas não conheciam o seu rosto, já que ela raramente dava entrevistas. Não sabiam que a mulher em pânico costumava ser muito discreta, raramente falava de si, sobretudo com estranhos, embora falasse dos porões da sua história de forma subliminar, através das personagens que criava. Para aquela mulher, as ideias eram mais importantes do que a imagem. Passados poucos segundos, ela rompeu as amarras do silêncio. Ergueu os seus olhos húmidos para as pessoas e, revelando uma expressão angustiada e inconformada, exclamou: Estou muito doente! Muito... Mas, digam -me! Pareço oferecer algum perigo? E, passando os olhos pela plateia, perguntou: Ponho as vossas vidas em risco? Perplexo e confuso, o homem que tinha falado com ela adiantou -se e respondeu: Não! Penso que não... Outro homem, de cabelo grisalho e aparência de médico, arriscou perguntar: O que é que está a sentir? 8 Augusto Cury


5 Camille não demorou a responder. Tenho cancro. Uma senhora com lábios trémulos, tentando consolá -la, interveio: Oh, minha querida. Eu também já tive cancro, mas curei -me. Camille olhou bem fundo nos olhos dela e comentou: Mas o meu é na alma... Uma vez mais o burburinho da plateia cessou. E alguém fez duas perguntas impossíveis de responder: Como localizá -lo? Como extirpá -lo? Perante os rostos atónitos dos transeuntes, Camille voltou a tapar o rosto, inconformada. Momentos depois, suspirando e soluçando, ela levantou -se e foi -se embora. Deixou para trás as pessoas que assistiam ao seu caos sem saberem quem ela era e qual o seu drama. Ela agradeceu -lhes apenas, com acenos de cabeça. Camille escrevera certa vez num dos seus romances: A dor que eu vejo está na periferia do espaço, a dor que eu sinto está no centro do Universo. É maior do que aquilo que entendes e muito maior do que aquilo que eu explico. Nunca tais palavras foram tão verdadeiras na sua própria história. Para a plateia, ela era mais um ser humano ferido que se cruzara no seu caminho. Mas o mundo de Camille estava a desabar. A tarde caía. A noite rapidamente revelou o seu rosto. Enquanto isso, a duzentos quilómetros de São Paulo, numa deslumbrante fazenda, nuvens carregadas cobriram a lua. Raios cortavam o breu da noite como lâminas, regurgitando trovões ribombantes que pareciam gritar aos ouvidos dos homens e dos animais: Sois pequenos! Sois mortais! Assombrados pelo espetáculo de estrias de luzes e sons altissonantes, os pássaros encolhiam -se nos ninhos, os animais abri gavam- -se trémulos sob os galhos das árvores e os homens refu gia vam -se calados sob os seus cobertores. Foi uma noite de chuva torrencial na bonita e misteriosa fazenda Monte Belo. Armadilhas da Mente 9


6 A tempestade insistia em eternizar -se, mas, sem pedir licença, o sol fez -se convidado para a mesa daquela manhã. Reciclou a estética. Nuvens esparsas pincelavam a vasta tela do espaço azul- -turquesa e cinza -claro. Segura diante dos embates da natureza, a estrela que rege a orquestra do dia acalmou os ânimos dos habitantes daqueles relevos com a sua indecifrável luminosidade. Parecia bradar sem palavras: Acalmem -se! Grandes tempestades anunciam belos amanheceres. E subtilmente foi aparecendo como uma gema de ouro brindando a floresta, produzindo silhuetas vivas que dançavam como sombras sob a regência dos ventos. Numa euforia irrefreável, os pássaros começaram a assobiar para o espetáculo. Nascia um dia radiante. Os animais saíam do abrigo das árvores sem delas se despedirem. Nenhum reconhecimento, nenhum agradecimento. Tal como os homens que nunca saldam as dívidas de quem os acolhe. Mas as árvores, de braços abertos, mais altruístas do que os humanos, nada lhes cobravam. Desprendidas, anunciavam com os suaves estalidos das folhas: Na próxima tempestade estaremos aqui! A fazenda Monte Belo cumpria mais uma jornada. Algumas lágrimas do céu ainda percorriam o contorno dos corpos das aves. Os bem -te -vis, os primeiros a despertar, tinham motivos irrefutáveis para emudecer, para se enraivecer, para protestar contra a cruel natureza. Com os ninhos derrubados, os seus filhotes silenciariam o chilrear. Mas, com uma magia inexprimível, homenageavam a vida, cantarolavam com vigor, revelando uma transcendência e uma resiliência inexplicáveis. As rolas salpicavam sons sem alternância de notas, mas não menos arrebatadores do que os pássaros gorjeadores. As andorinhas, como acrobatas dos céus, felizes, viraram a página da noite aterrorizante, serpenteando desempenhos com rara envergadura. Não pensar tem os seus privilégios: cada dia é um novo espetáculo. Pensar, um privilégio humano, traz à memória o passado. 10 Augusto Cury


7 Nós tornamo -nos uma história: ganhos inesquecíveis, perdas irreparáveis. A história engravida as tempestades mentais. As frustrações escrevem parágrafos; as perdas, capítulos; as mágoas, textos. Ténues gotas tornam -se torrentes, minúsculas poças geram oceanos. Sofremos pelo futuro. A fazenda Monte Belo tinha tanta terra quanto segredos. Havia trinta e cinco casas de colonos na propriedade, mas apenas trinta e duas estavam ocupadas. Quarenta e cinco funcionários trabalhavam ali, vinte e nove dos quais sulcavam seringueiras, uma atividade em muitos casos financeira, social e ecologicamente correta. As folhas das árvores desprendiam -se nos invernos e, para refazer os brotos, sequestravam o carbono produzido pelos carros e pela indústria, que poluía o ar. Bem remunerados, os homens que realizavam este trabalho faziam -no à sombra. Feriam delicadamente as árvores, que choravam generosas lágrimas brancas, o látex. Os restantes funcionários cuidavam da plantação de grãos e do gado. Na fazenda fazia -se também reflorestamento, uma bela plantação de mogno africano, cujas árvores nos primeiros anos pareciam cotonetes muito altos, por crescerem rapidamente sem ramificações, com hastes verde -escuras, devido às suas largas folhas. Nos tempos antigos e áureos do açúcar e do café, moravam ali 430 pessoas; dois terços eram escravos. Aqueles solos testemunharam alegrias e muitos horrores. Os barões do café colhiam grãos em abundância mas ideias com escassez. Os donos do engenho espremiam a cana da qual jorrava o melaço de doçura inigualável, mas a sua indócil emoção não destilava generosidade. Mentes incautas negavam que a fina camada de cor da pele branca ou negra jamais deveria servir de parâmetro para discriminar seres da mesma espécie... As lágrimas dos negros eram da mesma cor que as dos brancos. Mas ninguém as observava. Os seus pensamentos e imagens mentais eram produzidos pelos mesmos inimagináveis fenómenos. Mas ninguém os avaliava. Onde o lucro cresce, decresce a razão, e a mente embriaga a sua lucidez. A escravatura gerava lucros, era conveniente não pensar, sempre fora. Armadilhas da Mente 11


8 Os escravos dilataram os bolsos de alguns poucos senhores. Alguns arrancados dos braços das suas mães, outros capturados em terras longínquas, caçados como animais, vendidos como produtos, tratados como subespécie. A História transmitida nas escolas terá sempre uma dívida impagável para com a crua realidade. A teoria nazi já estava em prática vários séculos antes de Hitler e de Goebbels. A diferença entre os escravos de Auschwitz e os escravos africanos era que os primeiros recebiam uma ração aviltante nas fábricas químicas, o suficiente para sobreviverem alguns meses, enquanto os segundos se transformaram no ouro negro das fazendas coloniais. Riqueza e dor sulcaram os solos da belíssima fazenda. Mas o tempo da escravatura não terminou. No passado, algemava -se o corpo, hoje, algema -se a mente. De repente, um som estridente deixou eufóricos os animais e os habitantes da magnífica fazenda. Um helicóptero bimotor de doze lugares, que valia nove milhões de dólares, descia sobre o jardim da casa centenária. Um piloto, um copiloto e alguns seguranças traziam um casal que nunca fora visto naquelas bandas: milionários bem -sucedidos, discretos, bem vestidos. Do helicóptero saiu uma mulher sofisticada em todos os aspectos, do físico ao mental. Camille, acompanhada pelo seu marido, o banqueiro Marco Túlio. Eram os novos patrões. Camille acreditava que num ambiente espaçoso e permeado pela natureza ela poderia ser livre. A sua emoção voltaria a respirar. Os sonhos são generosos; a realidade nem sempre. Ela reserva as suas surpresas. 12 Augusto Cury 2ff7e9595c


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